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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

EVARISTO RIBERA CHERMONT

 

(San Juan, Puerto Rico, 1896-1976)

A infância e a vocação do infinito são os temas-chave da criação poética de Evaristo Ribera, diz dele Federico de Onis, um belo texto sobre esse poeta cada dia mais amado em sua pátria. A sua obra, marcada pelo amoroso gosto do idioma e do verso castelhano, revela a sua devoção pela exuberância da natureza de sua ilha, o fulgor de suas cores. Lateja nela a inquietação perante os enigmas e os milagres da natureza humana e sua transcendência.
Obra essencial: El templo de los alabastros (1919), Los almendros del passe de Covadonga (1928), Pajarera (1929). Tierra y sombra (1930), Color (1938), Tu, mar, y yo y ella (1946), La llama pensativa, Los sonetos de Dios, del Amor y de Muerte (1955).

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

MELLO, Thiago de.  Poetas da América de canto castellano.  Seleção, tradução e notas de Thiago de Mallo.  São Paulo: Global, 2011.  495 p.    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Tradução de THIAGO DE MELLO:

 

 

O MENINO E O CANDIEIRO

 

I.

 

Pelo jardim de flores
de sombra, o menino,
um candieiro lustrado
brilha na sua mão.

 

Iluminada, a cara
da criança resplandece.
Em seu cabelo os anos
docemente sorriem.

 

0 menino levanta
o candieiro na mão,
ilumina lugares
do jardim sem ninguém.

 

Vai em busca da graça
de alguma fantasia,
segue o jardim o menino
de verdes agitados.

 

 

II.

 

0 menino, a luz densa
do candieiro descobre
troncos enegrecidos
e caiadas paredes.

 

Pelas manchas de verde
o jardim serpenteia
o caminho dourado
de velhas fantasias.

 

0 caminho que, em sábio
madurar do tempo,
reaparece e reparte
suas mágicas línguas.

 

Ir por esse caminho
é se encontrar na glória
de um pretérito pródigo
de ilusivas substâncias.

 

 

III.

 

Por onde sobe ou desce
pelo jardim, o menino
leva o candieiro. As flores
de sombra desmaiam.

 

Dentro do emaranhado
de mansos vegetais,
leves bailam figuras
de imaginário mundo.

 

Um jorro só de cores
enche o jardim. A criança
potente de mistério domina essa beleza.

 

Mas lá fora das grades
do bosqueja é a noite
um tecido monstruoso
de trevas e de astros.

 

 

IV.

 

Nada adormece. As coisas
em um vasto desvelo,
ao retirar a máscara
ardem imensamente.

 

Com o pulso ligeiro
de um demônio nas mãos
mágicas do menino,
todo o candieiro dança.

 

0 jardim, desfolhado,
sem flores de sombra,
suaviza na poeira
os passos do menino.

 

Errabundo e sonâmbulo,
anda o menino. Areo-íris
de lendas e de contos
fulgura a sua fronte.

 

 

V.

 

E agora ouve as árvores
que chamejam, esplêndidas,
um rumor conhecido
de remotas palavras.

 

Quem lhe fala? Um génio,
arrancando raízes
e excitando ramagens,
desnuda suas vozes?

 

A terra e a mãe lhe tocam
com seus dedos untados
de ternuras, o sangue
vibrante que se inflama.

 

Mas outra vida o move,
uma vida que nasce
entre os musgos e o ar,
entre o ar e as nuvens.

 

 

VI.

 

Nem brinquedos, nem danças,
nem confeitos, nem tortas
valem mais que este rumo
de contente alvoroço.

 

0 jardim, cheio de olhos,
se inventa no menino
que, bêbado de fábulas,
impõe seu domínio.

 

Fica enorme o menino, t
ambém cresce o candieiro
e ambos cobrem a noite
com um azul de fogo.

 

Recobertas de estrelas,
as ruas se prolongam.
Um silêncio as vela,
mística sentinela.

VII

 

Pela noite impregnada
de orvalhado perfume
chocavam-se os insetos,
tanta a febre da música.

Enquanto os homens dormem
com prolongados roncos
e enquanto ladram os cães,
a noite é do menino.

O candeeira balança
nas mãos do meninol,
derramando a cascata
de sóis e de auroras.

Já nunca mais a morte
vai levar o menino!
Seu fulgor milagroso
para sempre arderá.

 

       (De Color, 1938)

 

 

*

 

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Página publicada em maio de 2021

 


 

 

 
 
 
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